quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A Falsa Presença

Eu chamava seu nome em vão,
sentada no chão, pedinte de atenção.
Seu sim era o meu não...
e o meu eu enganchado ao seu
procurava seus olhos entre os cachos escuros
e o silêncio por cima dos muros
de seus ombros operários...
indecifráveis enigmas, vários
e vários e vários dias precários
de contrários e contrariedades.
Eu nada entendia
do que via em seus olhos tristes.
Fui comendo o seu pão de dores
e me consolando c'outros amores
sem jamais descolar de sua imagem.
Sempre perto, sempre à margem,
entre a coragem e o medo,
entre o encanto e esse arremedo...
Como edifício de concreto
escorado, ameaçado...
de braço enlaçado ao seu
abraço gelado, calado, de iceberg.
Mais do que à tona se ergue,
muito mais é o que o mar escondeu...
Depois do vaso derramado
e das flores terem murchado,
o espelho sem brilho,
o que iria refletir?
Em vão fico a repetir
o estribilho da canção de ninar,
um réquien ao que ficou sem lugar...
Eu sou o vulto fosco de sua dor.
Sou o que foi possível do seu amor.

Um comentário:

Victor Meira disse...

Fiquei confuso. É muito bonito. Talvez seja efeito colateral da beleza.