sábado, 4 de abril de 2009

O Estranho Familiar

Depois da lombada. Era depois da grande lombada que eu avistaria a paisagem mais ansiada. Depois de cinco horas e uma lombada. Estava tudo em minha cabeça como se já a visse. Era como um presépio, um vale rodeado de colinas irregulares. Longas avenidas, o clube em frente a uma praça por onde daríamos a volta e chegaríamos ao centro. Pegaríamos mais uma avenida, passaríamos por um bairro nobre com alamedas cheias de lojas elegantes e bares com mesinhas na calçada. Em seguida uma rotatória e voilà! A entrada do condomínio.
Lá está! Tudo como eu imaginava... talvez não. Bom, curiosamente tudo me parecia um pouco menor. Como se houvesse encolhido. Engraçado...
Eu chegaria de surpresa. Mas já imaginava quantos reencontros festivos, quanta alegria ao abraçar novamente as pessoas queridas que eu não vejo há tantos anos.
As ruas também parecem um tanto mais estreitas, as casas mais velhas. Algumas novas, que não havia. Fachadas de lojas modernizadas. Ganha-se em comunicação visual, perde-se em identidade histórica. Um pouco nostálgico de se constatar.
Como eu previa, a alegria do reencontro foi contagiante! A recepção calorosa... mas depois de cinco horas, uma lombada, ruas mais estreitas, fachadas modificadas, alguns abraços e até légrimas comovidas, dou-me conta de que Stefany fora vitimada por uma leucemia, Dilma vem lutando contra um câncer, vovô Daniel faleceu no ano passado, Sr Wilson teve um infarto, Sandra foi morar na Inglaterra, as crianças cresceram, os amigos envelheceram, casaram, descasaram, partiram... um amor do passado prospera nos negócios, grisalho e bem casado... enfim, nada é mais a mesma coisa, ou pouco resta, mas não intacto, do que vive em minhas lembranças.

Um comentário:

Victor Meira disse...

Caramba. É meio onírica a linguagem da narrativa, conduzida por pretéritos imperfeitos e futuros do pretérito. Mas o que se conta é real e duro, chocante e efêmero ao mesmo tempo.