Uma figura no mínimo curiosa. Os cabelos volumosos, ruivos e cacheados, os olhos muito vivazes, sorriso fácil de dentes pequenos.
Era um tanto roliça, muito aplicada e simpática. Anotava tudo duarnte as aulas e ao falar, gesticulava fartamente e entremeava seus longos relatos com onomatopéias desconcertantes. Em pouco tempo era tão respeitada no grupo como uma menininha de cinco anos de idade. Embora cursasse uma pós-graduação. Não que suas falas não fossem pertinentes. Mas era difícil suportar-lhe os contorcionismos histriônicos de caras, bocas e mãos, espremendo uma história quase sem sumo, como se encenasse uma comédia grega!
Era dolorosamente ridículo o quanto uma mulher madura pasmava com o óbvio e comemorava o trivial. Naturalmente, com o tempo, todos se acostumaram aos seus arroubos e não parecia que alguém mais se importasse em ouvi-la pacientemente...
Mas algo estava diferente... A corpulenta balzackiana estava lá como sempre. Mas o seu olhar agora era de um espanto sem inocência. Sua fala não era mais de euforia. Antes, de uma angústia sufocante. Seus gestos ficaram contidos, embora a fala ainda fosse repetitiva de entrecortada de bufas e risinhos histéricos.
Pouco a pouco a sua fisionomia se transfigurava_ de euforia, em espanto, de espanto em angústia, de angústia em amargura.
Visivelmente perturbada, um dia me procurou para uma conversa reservada. De uma maneira surpreendentemente discreta e breve, sem alarde ou espanto, confidenciou-me um drama real e de proporções trágicas.
Aquilo de certo modo me tranquilizou. É estranho admiti-lo, mas finalmente havia um motivo plausível para aquela boca franzir-se como se alinhavada por segredos que só se contam ao pé do ouvido mais confiável. Aqueles olhos esbugalhados encontraram o objeto de seu susto. Suas mãos antes errantes, agitadas, agora pendiam inexpressivas e impotentes ou pronavam-se sobre a mesa após um gesto vago interrogativo...
A figura desconexa da mulher infantilizada se reajustava agora, no tempo e no espaço. A expectação cessara.
A menina que crescera espevitada e ingênua apenas para agradar e orgulhar à familia agora tinha diante de si todas as frustrações e desencantos que pelos cantos se esgueirara de seus olhos esbugalhados. Não dava mais para não ver.
Todos pensávamos não haver motivos para tanto drama. Havia. E só Madalena via... mas não sabia que via...
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