terça-feira, 21 de abril de 2009

Golpe de Mestre

_Com licença? Desculpe-me professor, não quero incomodá-lo, mas se tiver um instante, eu gostaria de fazer uma pergunta. Eh... um tanto embaraçosa...
_Pois não, do que se trata? Confesso que estou surpreso, mas curioso. Mesmo quando foi minha aluna você nunca me procurou para tirar dúvidas!
_É verdade... Acho que as suas aulas eram tão elucidativas que não restavam dúvidas a serem... Bem, é melhor eu ir direto ao ponto. Isso tem me torturado há... É que... Bem:
_Sinto que, seja o que for está lhe afligindo bastante...
_Se uma aluna sua, por acaso, lhe dissesse que se sente profundamente atraída e apaixonada... por você, qual seria a sua reação? O que aconteceria?
_Isso, de fato é aflitivo! Mas não podemos ignorar que ocorra, eventualmente. Nós passamos um ano inteiro em contato, trocamos experiências... Surpreendemo-nos mutuamente...
_Então?...
_Então eu diria que se deve seguir o procedimento padrão.
_Como assim?
_Bem, você sabe: mantemos uma distância respeitosa e segura, vemos a coisa toda como uma idealização da aluna em questão, consideramos os mecanismos transferenciais, indicamos um acompanhamento psicológico, damos tempo ao tempo... e um dia...
_Mas... mas é só isso? Digo: o senhor não deseja saber de quem se trata? Fica totalmente indiferente? Responde friamente, com "procedimentos-padrão"?
_Um dia, como eu dizia, minha cara, quando formos colegas, eu e a referida pessoa... e não mais professor e aluna, riremos muito disso tudo, dissimulando qualquer constrangimento, e depois de fartos do riso, entreolharmo-nos-emos e, mesmo sem palavras, nos perguntaremos mutuamente: Por que não experimentamos?

2 comentários:

Victor Meira disse...

Pois é. Mas quando não houver a relação aluno-professor, vai haver atração? Nem...

Caramba. Toda ação humana deve ser tida como patologia.

Muito distintas as personagens. O conto é muito claro, gosto dele. Bacana.

Lírica disse...

Pois é... por isso eu preferi colocar o verbo sugerindo: "por que não experimentamos?" como se se referisse ao passado! Ele não disse: Por que não tentarmos?
Mas eu adorei o que vc pontuou... Realmente a interdição pode ser a única motivação!