quinta-feira, 23 de abril de 2009

Cantiga...antiga...

Lembro o biombo de treliça branca
e a carranca na beira do rio...
os sapos no quintal e o som do assobio
do vento frio nas frestas basculantes.
Lembro de noites sombrias
de ave-marias e sonambulantes.
Lembro que havia uma escada vermelha
e um corte na sobrancelha, sangrando
espesso sobre as lágrimas pueris...
Havia longos corredores e altos peitoris.
Lembro de vilas e estradas empoeiradas,
galinhas empoleiradas, véus de noiva
de alturas de dar vertigem e virgens
e filhos santos e pais heróis e muitos sóis...
Lembro de cheiros e cores, engenhos,
senhores, gado, doces, assados, sorrisos,
passado, presentes, silêncios e avisos
E a marcha solene, perene do tempo...
Lembro do rio que a barragem desviou,
do amigo que morte levou...
da preta velha de xodós e de Xangô.
Lembro da Kombi da escola, vitrola,
caçarola e do passarinho fugir da gaiola.
Agora lembro de lembrar...
E de que sou feita de tudo o que há
nesse baú da mater-mãe-madeira,
tronco e coluna, e ramos e birros
de mulher-rendeira. Da bisavó cachimbeira
e de toda a genealogia e toda a fantasia
que flui e flui e não esvazia.

2 comentários:

Ludi disse...

Ai...tô nova por aqui, mas achei tão lindo, tão simples e tão sincero...
me vi do seu lado sentindo o ventinho frio e tudo que ele soprava ao redor.
gosto mesmo é de simplicidade.
tô aqui me refestelando!
um beijo, tia!

Lírica disse...

Que bom tê-la por aqui!!!!!