quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Contidos

!Era uma cena, no mínimo, intrigante... Eu contornei a rótula, absorta e eles lá. De qualquer ângulo que eu os olhasse eles pareciam me encarar também. Como a Gioconda de Da Vinci. Seis baldes coloridos perfilados na calçada. Novinhos em folha. Tinham até um toldo a lhes fazer sombra. Era uma vitrine inusitada! Seis baldes se exibindo como prostitutas na calçada em pelna luz do dia. Não, coitados... eles estavam trabalhando. ou melhor: esperando emprego. Como lixeiras, ou baús... Que importa? Coitados. Já era tarde e ninguém os havia levado pra casa. Como na parábola dos trabalhadores, eles apenas esperavam...
Fiquei encantada pela visão. Pareciam essas pessoas fúteis, bonitas por fora, mas frágeis e vazias. Não. Pareciam grandes latrinas novas e brilhantes, mas assim que começassem a ser usadas, seu brilho desapareceria, ficariam manchadas, foscas, sujas e malcheirosas. Tive vontade de recolhê-los escondê-los num lugar seguro onde ficassem sempre limpos, lindos e... inúteis. Como parecem querer as mães, que fiquem seus filhos.
... Seis belos baldes, debalde na calçada, bocas fechadas, enfileirados, enfeitando a paisagem.
Como é lúdica a indústria de plásticos! Lembrou-me uma nos arredores de Paris: Pum Plastic.
O que mais me impressiona é pensar na infinidade de usos que me inspiraram aqueles baldes, e ao mesmo tempo o desejo de mantê-los intocados. Como uma eterna possibilidade.

Um comentário:

Victor Meira disse...

Caaaaaaaaaaaaaaaara! Que coisa linda esse conto. Chapei total. Olha só... Muito bom. Tem uma linguagem nele que me trouxe pra pertinho do autor, da contemplação e do acontecimento. Um exame das possibilidades de uma desvulgarizada contemplação.

Cara... legal demais.