quinta-feira, 28 de agosto de 2008

A Mudança.

Joguei fora tudo o que era velho, remexi o fundo dos baús, gavetas e armários. Mandei o cachorro embora- ele não iria combinar com a nova decoração. Brincadeira: ele não merecia ficar preso num apartamento- e vendi um monte de tralha. Estou perdida entre dezenas de caixas lacradas. O que era o "meu lar" está parecendo uma armazém do porto. Tudo em containers. O melhor do que tenho, a ser exportado para um universo todo novo com o qual tenho a liberdade de brincar em minhas fantasias, imaginando uma vida perfeita, elegante, organizada e limpa, numa nova casa que, em meu delírio está mais para um cenário!
É quando me questiono: o que me faz tão feliz neste momento caótico? Imaginar a futura ordem perfeita? Ou teria este gozo algo de mais próprio?... É que eu sinto uma euforia quase infantil neste intervalo habitacional. Como se a propaganda comercial fosse mais divertida do que o programa que passa. Neste momento sou dona que já foi, pelas memórias, e do que virá, pelos sonhos. Lembro só das coisas boas, é claro e sonho só o que desejo, evidentemente, já que sonho acordada.
Não penso nas dívidas que o novo lar paradisíaco gerará para ser tão ideal, nem nas dores musculares depois de arrumar tanta mudança. Apenas me deleito no prazer desse lapso, no virar da página, no silêncio entre duas pulsações... No espaço aéreo entre duas pegadas no chão.
Uma mudança é a síntese de uma existência, um contrair-se todo, prender a respiração após encher os pulmões... é um retesar todas as fibras para saltar no desconhecido. Não um passo como cada um que damos a cada instante em direção ao sempre... Mas um salto do despenhadeiro.

Um comentário:

Victor Meira disse...

Tô adorando essa nova fase sensível. Erguer a possibilidade metafórica numa narração ancorada no cotidiano nos faz, inevitavelmente, mais sinceros conosco.

Mas o Vovô foi embora?