quinta-feira, 10 de julho de 2008

Reflexões, Reflexos e Circunflexos

Fios de cobre cobrem-me as faces e as facetas de cada coisa ao redor são incógnitas como quadrados mágicos que um dia se encaixarão cor com cor que se acharão cada qual com sua cara e com a do seu par e eu ainda a me olhar na cara do espelho a esperar a lâminas a me aparar apostrofadas por dedos hábeis ao bel prazer e ao bel saber.
Arestas aparadas destas florestas tão capilares que não são pilares de outra floresta de tantos pensares espano-me e espanto-me de ter quase outra cara embora pereça tecer nos mesmos teares e viver nos mesmos lugares e pisar os mesmos ermos lagares de outrora.
Quem faz a face se modificar ao fio não cuida que o que arrefece a força da foice é ceifar pois o fio que sega há de cegar e o esmeril que o há de gastar também gasto será e assim tudo se gasta ao se dar.
Desenrolado o novelo todo e findo o zelo de tosar pois o que resta é fiapo aqui e acolá não se tem mais nada a modificar e desse modo o que resta é ficar como está até não mais ser nem estar e nem sentir o mal-estar de ser.
Isso pra não falar das cores e dos odores e dos gris encanecidos desses fios lisos ou retorcidos.
Pelo sim pelo não quem saberá pelo menos se o apelo é um pêlo que não há ou muito pelo contrário ou se um monte de pêlo que cai sem ser cortado é um apelo desesperado de alguém que se sente escalpelado e destituído de algum poder conferido ou conquistado...
É de deixar-nos perplexos pensar nesse fios que se assentam circunflexos em nossas cabeças vogais. Talvez os carecas e calvos, cômicos alvos de tantas chacotas por falta de capota tenham cabeças mais abertas por falta do acento tônico irônico, cônico.

Um comentário:

Beatriz disse...

Que lindo. surpreendente jogo de aliterações, nesse labirinto de fios gris, fios de dédalo por onde vc puxa um minotauro calvo.
Lírica, adorei estas reflexões, reflexos e circunflexos.
Parabéns!