Silvana não ía deixar barato mesmo. A vida nunca fora boazinha com ela! O ex marido teve que se despencar lá do Nordeste pra uma audiência no interor de São Paulo porque nunca pagou a pensão devida ao filho. O coitado chegou todo moído com uma mochila velha e poída e uma pequena pasta cheia de papéis, a cara amassada de sono, o que o deixava com uma aparência ainda mais envelhecida. Fazia tempo que Silvana não o via. Quase sentiu pena do desgraçado, mas junto com ele vieram as lembranças de um passado cheio de humilhações.
Silvana não queria correr riscos de amolecer o coração. Sabia que o sujeito que um dia fora seu marido viria com mil ladainhas e desceria ao mais baixo dos níveis pra fugir à responsabilidade paterna. Muniu-se de duas amigas boas briga que lhes serviriam de testemunhas e foi à luta.
As coisas transcorreram mais amistosamente do que o esperado, embora não sem litígio. Ao final da audiência encontraram-se, Silvana, suas amigas e o ex marido litigante à saída do forum. Tinham que ir até a rodoviária e acabaram fazendo juntos o percurso. A pé! Elas esfolando os pés em sandálias de salto alto que a ocasião, afinal, exigia... Ele mostrando-se muito impressioanado com a beleza e jovialidade da ex esposa e tentando de todas as formas aproximar-se dela com galanteios.
Mas nada nele impressionaria, a esta altura do campeonato, a Silvana, que só queria garantir o sustento de seu filho. O pobre diabo teve que se comprometer legalmente a pagar a devida pensão, não caiu nas graças das amigas, a esta altura também indignadas por não lher ter sido dada a chance de armar o maior barraco na frente do juiz, em favor da colega, e mais ainda por verem aquela cena de cinismo explícito de um sem vergonha que chegara aparentando tão singela humildade e agora, visto mais de perto exibia um bom relógio, um palm top que sacara da mochila pra mostrar as fotografias das filhas do atual casamento... E com tanto a comprometê-lo, ainda ter a audácia de tentar seduzir Silvana com elogios e confissões de arrependimento por tê-la deixado. Ora, faça-me o favor!
O advogado parkinsoniano, baixinho e ostensivamente ornado por correntes, relógios e pulseiras muito dourados era da defensoria pública do Estado, como convinha a alguém de parcos recursos como Silvana, mas fizera bem o seu papel. As amigas também. O juiz não deixou por menos. Tudo saiu melhor do que o esperado. Menos os sonhos adolescentes de Silvana, de uma vida feliz ao lado de um marido decente...
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