sábado, 2 de fevereiro de 2008

Nada.

Nada mais a dizer... nada no olhar reticente que vaga pela casa, indiferente, mas melancólico. Nada a declarar até que o redemoinho em meu peito acalme e deixe assentar a poeira que turva a tudo em redor. Mas então, tudo será póstumo!
Num deserto de portas cerradas percorro corredores intermináveis e, subo escadas espirais, contemplo a paisagem distante pelas vidraças sujas... e não encontro a saída.
Nada de lágrimas. Nem de risos. Tudo foi subtraído numa rotina de frases truncadas e mal-entendidos estudadamente permitidos. Tudo dissimulado em abraços matinais e beijos à chegada e saída... e críticas veladas em olhares arrematadores. Silêncios permissivos, silêncios ofendidos, silêncios punitivos e silêncios de completa ausência.
Nada a dizer. Porque nada será mesmo ouvido.
Amanhã será apenas outra espécie hoje, com sua inestimável coleção de mágoas e heróicas renúncias.
Parece que a noite erscura e pesada sobre os meus olhos jamais escoará. Meus tesouros vão perdendo valor... a prata escurecida e fosca, os lençóis puídos, fechaduras emperradas e paredes rachadas. A louça perdeu o seu verniz e até mesmo eu fiquei enrugada!
Nada a fazer. A fortaleza foi sitiada, o país está deserto; o herói, morto e a bandeira dos sonhos, em pedaços pelo chão. Tudo é desolação. Tudo é em vão. Tudo culmina na mais fria e perene solidão.
Há teias nos cantos das paredes feias e pálidas. As cartas amarelaram com o tempo e nada do que elas dizem tem mais qualquer sentido. Tudo em volta está quieto sob uma camada de pó, e guarda histórias que ninguém mais há para ouvir.
Móveis velhos rangem ao ser tocados. Já não se podem mover. Velhas poltronas têm cheiro de mofo. O amor depois de velho é só resignação.

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