segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Post Morten

A cara lavada
Espantada estava
E o olho vidrava
Mas não via nada

Toda abotoada
De velas, brilhava
De flor se enfeitava...
E a alma encomendada.

A pobre coitada
Que não se tampava
Quase mal-cheirava
Pela madrugada

Quando a mãe, cansada
Dela se acercava
E a mão lhe passava
Quase conformada...

Deu mais uma olhada
E viu que brotava
Dos olhos de Dalva
Pranto de enxurrada!

Num brado, espantada
Já rejubilava
E aos que anunciava
"É ressussitada!"

Fez-se acreditada!
Era o que faltava!
Levantaram Dalva,
Até estar sentada!

Mas dona Mafalda
Que não era parva
Notou que pingava
Da telha rachada!

Bem na cara parda
Da defunta Dalva
Era que pingava
A lage enxarcada...

Êta dor danada!
A mãe se acabava
E a gente espiava
S'entender mais nada!

Dalva, conformada,
Morta, ainda chorava
E a goteira achava a
Cara mais lavada...

Dalva foi levada.
'Inda garoava
Quando ela baixava
À eterna morada.

Muito foi lembrada:
Morta que chorava
Mas, se morta estava...
Já foi consolada...

Um comentário:

Victor Meira disse...

Hahahaha!!
Muito bom!!!! Pô mãe, muito original. Acho até que o título da poesia deveria carregar o nome da personagem.

Há tempos você não fazia uma tão boa. Acertou na testa.

Até ia falar alguma besteira sobre forma, mas ia ser besteira mesmo. A forma é condizente com o tipo de narrativa, e a uniformidade dá uma sequência muito gostosa pro texto.

Demais.