A cara lavada
Espantada estava
E o olho vidrava
Mas não via nada
Toda abotoada
De velas, brilhava
De flor se enfeitava...
E a alma encomendada.
A pobre coitada
Que não se tampava
Quase mal-cheirava
Pela madrugada
Quando a mãe, cansada
Dela se acercava
E a mão lhe passava
Quase conformada...
Deu mais uma olhada
E viu que brotava
Dos olhos de Dalva
Pranto de enxurrada!
Num brado, espantada
Já rejubilava
E aos que anunciava
"É ressussitada!"
Fez-se acreditada!
Era o que faltava!
Levantaram Dalva,
Até estar sentada!
Mas dona Mafalda
Que não era parva
Notou que pingava
Da telha rachada!
Bem na cara parda
Da defunta Dalva
Era que pingava
A lage enxarcada...
Êta dor danada!
A mãe se acabava
E a gente espiava
S'entender mais nada!
Dalva, conformada,
Morta, ainda chorava
E a goteira achava a
Cara mais lavada...
Dalva foi levada.
'Inda garoava
Quando ela baixava
À eterna morada.
Muito foi lembrada:
Morta que chorava
Mas, se morta estava...
Já foi consolada...
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Um comentário:
Hahahaha!!
Muito bom!!!! Pô mãe, muito original. Acho até que o título da poesia deveria carregar o nome da personagem.
Há tempos você não fazia uma tão boa. Acertou na testa.
Até ia falar alguma besteira sobre forma, mas ia ser besteira mesmo. A forma é condizente com o tipo de narrativa, e a uniformidade dá uma sequência muito gostosa pro texto.
Demais.
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