sexta-feira, 6 de julho de 2007

Depressão- cinestesia

Tudo é amargo ou ácido...
Fosco, fétido e flácido
Como se o mundo todo
Imerso em fel, se diluísse
E fosse dissolvendo e sendo lodo
E nessa corrosão frouxa e cruel
Meu ser fosse também desvanecendo.
Flutuam fachos pardos, amarelos
Num fluido esverdeado, denso...
Meus pés se esquecem dos chinelos.
Eu ando no desalinho de andrajos rotos
Escondendo-me dos rostos alheios
Nos devaneios abismais desse mergulho
No ventre pútrido dos esgotos.
E quanto mais eu penso e repenso
Mais me atormentam a dor e o odor
Tão nécio e tépido no ar, suspenso
Como se tudo, em graxa flutuasse
Viscoso, mole e morno no silêncio,
Escorrendo lento, lento até o infinito.
Mas eis que na modorra dessa estase
Um fogo fátuo se insinua e toma vulto
Queimando tudo em labaredas tais
Que nada há que se lhe faça oculto
E nada há mais do que cinza e gás
E logo tudo, tudo
Se desfaz e jaz.

2 comentários:

Victor Meira disse...

Gosto muito dessa metaforização, dessa figurização dos sentimentos e abstrações. Acho que poucas coisas são mais poéticas que isso.

Olhar de Isa disse...

Estes versos são um mergulho na alma efêmera de um desesperançado...
Muito bem pensado, poetisa!