O silêncio imponente desses cálices ocres, sempre empertigados, lado a lado como guardas reais sobre o meu aparador... Como todas as coisas, eles são apenas coisas. Frágeis, mas perpétuos. Sempre ali no mesmo lugar, testemunhando chegadas e saídas, lágrimas e risos, banquetes e ausências. Suas grandes bocas abertas engolem toda a poeira que se cansa de dar piruetas no ar e se aninha em suas entranhas. Grandes bocas silenciosas, continentes, sem dentes... Às vezes comem mosca. Mas geralmente são quase sem conteúdo. Testemunhas inúteis de tantos anos de história. Viram crescer meus meninos. Às vezes deliro que eles entendem tudo o que desfila à sua frente. Como podem esses dois cálices estar comigo mais tempo do que tantos entes? Assim, sem fazer força alguma pra existir? Sem vida, sem movimento, mas já donos de afetos e um certo respeito, e zelo, e até admiração! E nós que fazemos tanto pra ser aceitos, e sempre acabamos na solidão... solidão que não incomoda meus cálices ocres.
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