A moça dedilha triste, o piano.
A noite fria recolhe a vida, encolhe o dia
e estende-se como um cobertor.
O velho cansado busca o leito como outrora buscava o amor.
Os vãos da casa são penumbra e solidão.
A flor meio murcha no vaso rutilante ainda exala um perfume tímido.
As notas melódicas pesam no ar como o arrastar de correntes,
trilha de lembranças sufocadas num véu de Maya...
A noite vaga em sua marcha claudicante e o velho ronca dissonante.
A música já se perdeu no silêncio
e eu ainda não tenho sono.
Vago pelos vãos escuros e frios...
Vago no meio do ressonar alheio...
Vago entre opostos, versos e avessos.
Vago no âmnio, na insânia, na insônia...
desejando os sonhos e as canções da moça,
o torpor e o amor do velho,
o perfume e o vaso da flor.
A noite se adelgaça em retalhos
e os meus olhos em frangalhos
já veem a nudez alva do dia.
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