terça-feira, 10 de novembro de 2009

Pela Fresta

Olho pelo buraco escuro
dessa fechadura
e vejo como a luneta vê
a ancha envergadura.
Visão de tela de TV
lisa, plana, sem ranhura.
Vejo pelos furos
o que quase ninguém vê.
Com olhos de futuro
o que passou por você.
Atrás desses muros
cresceu o seu roxo Ipê
com tortuosas chanfraduras.
Olho pelo oco
por onde flutua
e goteja pouco a pouco
a seiva da alma
do mundo da lua
como se a eternidade
fosse sua...
como se a realidade
que se acentua
em suas cavidades
fosse coisa que se frua
com a singularidade
com que se insinua
a fluida fantasia
sem tempo, sem dor, sem idade
que também espreita
pelas frestas
e corre pelas florestas
e nos córregos se deita...
Olho pelos olhos mágicos
e só vejo espelhos.
Olho pelos olhos vermelhos
enigmáticos
e vejo os buracos.

Nenhum comentário: