segunda-feira, 16 de março de 2009

Moedas Têm Duas Faces.

O senhores doutores, muito bem dotados de saber e poder entendem bem que suas almas de jaleco impecavelmente branco precisam ser testadas e purificadas na dureza dos plantões, no afinco dos estudos, no abdicar dos lazeres e no compromisso com o sigilo prfossional. Por isso ostentam com tanto orgulho o jugo de seus "ostentoscópios", as mazelas de seu ofício cheio de orifícios de difícil manejo... e as incógnitas e idiopáticas patologias que, antipáticas, desafiam sua acuidade diagnóstica.
Os doutores, dia-a-diagnosticando, tratando, às vezes destratando, contratando e até contrastando com a paisagem, seguem vivos em meio à morte, saudáveis em meio às doenças e alguns até lúcidos em meio à loucura.
Dez anos de formação, sem falar nos congressos, processos, mestrados, doutorados e PHDs... Noites e noites insones, guerras de nervos, sobreaviso, horas a fio ao fio da navalha do bisturi, o paciente por um fio e mais uns tantos fios cirúrgicos, sem contar o desafio do procedimento em si... digo: no outro, lá, ele!
Quem eles pensam que são, esses doutores, tão senhores de si? Invadem nossos corpos e nossa intimidade mais intimidadora, massageiam nosso coração, arrancam nossas tripas! Selam nossa morte, trazem-nos à vida! Abrem nossas pernas, fecham nossas feridas! Curam nossa embriaguez, embriagam-nos de sedativos!
Doutores são para enfermos, para sãos, para inválidos e desvalidos, para bons e maus... Doutores são paradoxos. Por isso os odiamos apaixonadamente e os amamos cheios de temor.
Doutores são lírios imaculados em meio ao lodo putrefeito da humanidade... até que a sua humanidade se ensoberbeça e ufane, e suba até à onipotência divina só para ver-se só e desamparada. Daí pra a frente o prognóstico é sombrio... Quando o médico deixa de ser solidário, o paciente está solitário em seu padecer.

Um comentário:

Victor Meira disse...

Quanta poesia.
Bacana o desabafo aconselhador.