Olho os meus dedos tortos de se pisarem como se uns estivessem mais vivos e outros mais mortos. Fico pensando nesses caminhares sobre os meus duros e não menos tortos calcanhares. Não sei ao certo se os caminhos- ora, vejam só -também tortos que eles desenharam fizeram pegadas sobre solos vários ou se esses vários é que lhes marcaram de calos, joanetes, artroses, ceratoses e umas neuroses... Sim! De retornarem tantas vezes aos mesmos caminhos ermos que não têm saída... De apressarem o passo, numa mania de evitar o que ninguém mais via... mania de pe...rseguição...
Mas não falemos só das torturas e tortuosidades. Esses pés tiveram tanta felicidade... Só de passarem as noites sob a cabana dos cobertores, enroscados em seus amores pares... Eram como se fossem um. Como partes quentinhas de um quadrúpede feliz chamado casal.
Sinto pena, no entanto, dos pés. De vê-los cansados, castigados dos fardos e enfados que a vida lhes põe e impõe. Que venham as chinelas pois só elas sabem confortar, libertar e apoiar incondicionalmente.
Injustiçados pés... quanta má fama! Em referência ao ato de defecar, em alguns lugares diz-se "ir aos pés". Quando o caso é de embaraço: "meteu os pés pelas mãos". Se o prognóstico é sombrio, é que se está "com o pé na cova". Ao sujeito de má sorte, cabe o rótulo de "pé frio". O litígio é "pé de guerra". Vacilo é "pé na jaca". O que não funciona: "não dá pé". O assustador folclore brasileiro tem um elenco de: pé invertido (Curupira), sem pé ( Saci Pererê), Mula Manca... que não larga o pé do pé.
Nos jogos e competições, a implicância recai novamente sobre o pé. Quem é que pisa na bola, invade, pisa na marca, queima a linha, acerta a canela do adversário? Ele.
Logo ele, que nos mantém de pé! É um "pé no saco", a falta de consideração com os pés.
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Um comentário:
Fantástica investigação socio-folclórica. Um pé-de-moleque divertidíssimo!
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