Da varanda vê-se a rodovia .
... como vão as horas, fugidias.
Eu estava só... na varanda fria
sem saber o que faria,
sem poder o que queria.
O precipício me sorria.
O edifício me acolhia...
A preguiça me impedia.
E eu, vadia
entre um chá e o que eu lia,
entre a paz e melancolia
me encolhia...
Era quase meio-dia
tudo ardia
Eu, embalada, adormecia
sem fazer caso, plano ou fantasia.
E o tempo escorria
pela lajota e a esquadria,
pela paisagem que me via...
Era quase ave-maria
sob a morna monotonia.
Só a lua me valia
na escuridade vazia.
Logo o vento retomaria
sua aguda cantoria
e, na varanda, eu deixaria
a minha doce companhia.
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4 comentários:
Fico em enigma pensando em que hora essa poesia veio à vida. Se veio com o sol que lhe acompanha docemente, ou se veio doentia sob o olhar da lua.
É belía e um pouco excessivía.
Vê se assim está menos excessiva.
O excesso de rima queria enfatizar a monotonia. Por isso a monofonia. Mas eu confesso que gostei da dica. Tava over.
Vc não gosta de explicações, mas vai aí uma analogia da varanda com a instância do pré consciente (entre o interno e o externo: varanda).
Os versos mais fortes são a dobra:
"O precipício me sorria.
O edifício me acolhia"
A interpretação que ulula na poesia é a comparação temporal da poetiza (enquanto eu-lírica real) com o passar do dia. Claro, isso na minha leitura (sôo dogmático porquê sou minha própria medida, não?).
A varanda, então, me pareceu apenas um estado extremamente sensível da percepção - que está "fora" do apartamento, ainda que nele. Um estado superior à mera visão através da janela da alma.
Hahahah, não gosto muito de explicações porquê, ao explicar, a gente subjulga o interlocutor. Às vezes, realmente, a gente revela coisas que ele não tinha visto.
Diria que, entre intelectuais, é uma jogada arriscada.
Mas dessa feita, valeu.
Explicar tira um pouco o encanto, mesmo... Mas mostra outras facetas. Então vale. Como diamante lapidado, multifacetado.
O tempo é o grito do poema. Certo, vc captou.
O tempo també é uma ponte. Como o pré-consciente é a intância das coisas latentes, mas que podem ser acessadas. É a ponte entre a paixão do inconsciente quer se lançar, descarregar suas energias,sentir prazar, e o consciente que é regido pelo princípio de sobrevivência.
Só explico pq a coisa toda foi jogada sem uma contextualização específica. Afinal meu blog não é sobre "psi". Mas eu entendo. Vc defende a poesia como uma proteína que pode se ligar a vários tipos de receptores (leitores)e resultar nos mais diversos compostos.
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