Chegou ao meu consultório meio rouca, muito agitada, com ar pesaroso, relatando-me as desventuras pelas quais vinha passando desde que sofrera uma cirurgia para retirada da tireóide. Era uma mulher de uns cinquenta anos. Olhei os exames e percebi que não se tratara de um caso de câncer, mas haviam tirado também, as suas paratireóides, o que a deixara com séria deficiência de cálcio para toda a vida. Pra piorar, fuma desbragadamente desde quase sempre e vive baixando o pronto-socorro com a boca repuxando e as mãos entortando-se.
Lá pelas tantas, durante a consulta, eu tentando pessuadi-la a buscar ajuda psicológica, ela me sai com uma: "...Mas existe algum tratamento realmente palpável para esse estresse, ou vai ficar só na teoria?"
Eu juro que há momentos em que eu tenho vontade de largar o estetoscópio e empunhar uma bandeira, encabeçar uma revolução! Tenho o azar de viver num país onde as pessoas ainda acham que psicologia é luxo e prevenção é vacina e camisinha.
"Minha cara- respondi, tentando manter a calma- quanto de palpável há no que chamamos de emocional?
Ela arrefeceu a arrogância, mas não deixou de dar um sorriso sarcástico quando, ao despedi-la reforcei a recomendação de exercícios e banhos de sol.
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Um comentário:
O trabalho tem disso, da hostilidade do cliente pra quem prestamos serviços. É igual em toda profissão.
Será que é isso que torna o labor cansativo, pesaroso? Será que o modelo de trabalho ideal é o que o cliente deixa a hostilidade e passa a confiar nos especialistas?
E será que a gente anda fazendo o inferno de algum profissional especialista por aí?
Eita.
Tá super bem escrito, bem gostoso de ler.
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