Sentado ali, tão senil
nada mais de varonil,
em seu sofá de vinil,
a dedilhar mui gentil
o cavaquinho morgadio...
Velho mulato: Brasil
Seu lombo de esmeril
tanto suor já espargiu
tanto lutou e erigiu...
mas ele tira, sutil
do instrumento febril
sons de divino feitio!
Como cabia ao bugio,
talhado à forma servil,
tão virtuoso ardil?
A noite fresca caiu
e ele, horas a fio...
tangendo as cordas, nem viu!
A esposa, a janta, serviu...
ele jantou e dormiu
Mas outro dia surgiu
e tudo se repetiu:
a cena do homem senil,
seu cancioneiro pueiril...
à luz diáfana e vil.
Tantas notas desferiu...
Tantas emoções, sentiu...
Tanto silêncio o aplaudiu...
Agora ele já partiu.
Há tanto tempo partiu...
Por que será que surgiu
Neste meu peito vazio,
e uma saudade expandiu,
essa memória sutil
do meu avô que partiu?
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