-Mais enfeitada do que santa cruz de beira de estrada! Pra onde vai assim, essa menina?
-Oxente... e é de sua conta, assombração?
- Mode o que é que ocê me chamô de assombração, desenxavida?
-Tu parece alma penada... aparece do nada, se mete onde num é chamado e inda por riba é feio que só o cão!
-Ói! já tô desimpaciente de suas pilhérias. Tu num tem consideração e só pensa em se amostrá!
-Pega o beco, ô inxirido! Tu tá mais perdido do que cachorro em dia de mudança, aqui. Vai procurar o que fazer... aqui num é lugar de estrupício, não! Vai chegar visita e tu num é bem chegado. Arreda!
-Cheia de graça... Só quer ser as prega! só porque tem esse vestido aí do tempo do ronca, pensa que é chique...
-E tu lá sabe o que é chiqueza, home? Mas quá... coitado...
-Num sô coitado não, viu? Sô é muito macho!
-Tu é um moleque, isso sim!
-E tu, uma lambisgóia, exibida e sibite!
-Vô dizer a painho que tu tá me xingando, seu...
-Tu também me xingô! Vive me magoando... desalmada...
-Ora essa... desde quando um jumento que nem tu tem sentimento?
-Desde que lhe vi pela primeira vez.
-Oxe, menino... que cunversa é essa?
-Ocê me descurpe a insolença, mas é que eu ando meio que arrastando uma asa pra tu, que sua formosura é muita, e num posso vê ocê toda prosa, vaidosa e bunita que só santa em dia de procissão, que fico doido de ciúme!
-Mas que nada! Tu tem corage de se declará assim pra uma moça fina, sem ter um tostão, sem eira nem beira... mais quebrado que arroz de quarta? Tá pensando que eu sou quenga, é?
-Oxe, tô não! Vixe Maria! Tô lhe abrindo meu coração!
-Pois então feche e suma com ele daqui agora mesmo, que já perdi foi muito tempo com essa conversa de miolo de pote.
-Eita! Que brabeza... Tá me enjeitando, é? Desprezando um amor verdadeiro? Deix'tá, bixinha...
-Tu com esse olho de peixe morto, cara de boi-lambeu, sem cultura nem posição, acha que vai conquistar uma moça estudada e viajada, filha de coronel? Vá sonhando... Meu príncipe encantado é home de fino trato, né um zé ninguém quem não vale o que come... Vê se eu vou dar trela pra um peão matuto, grosseirão... Nem te ligo. Sai daqui!
-Tu tá se fazendo de rogada agora... mas Deus é pai e há de lhe mostrar o que é um home de verdade.
-Pois fique sabendo que eu já tô de noivado encomendado com o filho do prefeito, aquele que vem da capital! Eita home lindo... Educado, atencioso, sabido... Tu é um coitado.
-Pois fique tu sabendo que esse seu príncipe aí é mais falso do que ouro de baleiro. Num dô três lua pra ele mostrar o feitio dele.
-Inveja. Fica fazendo intriga porque é despeitado e nunca vai ser como ele.
-Tu é linda de verdade, mas é bestinha... num malda nas coisa, vive sonhando acordada...
-Ô mãinha, vem ver o que esse atentado tá me dizendo! Ele tá me fadigando...
-Tô só lhe abrindo os óio... Tu em vez de aceitar meus sentimento, vai atrás do vento... de fantasia, de conto de fada, de paixão de príncipe de não sei das quantas... Toda manhosa... Toda cheia de vontade... E eu aqui, um seu escravo, tão amargurado de amor não correspondido...
-Tão suado, tão fedido, tão agreste e atrevido!
-Tão sincero e ofendido...
-Tão ousado e oferecido...
-Tão disposto e decidido que por ti tudo eu fazia... Essa fúria é pura birra, mas quando tu deixar de ser menina mimada vai ser uma mulher de fibra, que eu conheço do que tu é feita. Desde sempre eu lhe conheço, pois se crescemos nessas paragens, brincamos naquele córrego, subimos naquelas árvores, corremos por esses pastos, vimos tanta coisa juntos... Tu sempre foi minha companheira.
-Tu sempre foi meu empregado, isso sim!
-E quero continuar lhe servindo, minha rainha...
-Servindo de capacho?... Que é que foi? Se ofendeu, Don Juan de meia pataca? Por que tá me olhando assim? Fala, toupeira! Eu, hein? Hei! Onde tu vai? Volta aqui, seu... Volta aqui agora! Ficou mudo, foi? Volta aqui, fala comigo! Larga de ser besta, criatura... Eu tava brincando... Olha aqui, já me fez desfiar a meia nova... Para! Acha que eu vou atrás de você, é? Me espera... eu não consigo lhe acompanhar. Fala comigo... Volta...
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