quinta-feira, 8 de maio de 2008
Contos Médicos_ Síncope
Fazia frio. Era noite. Pessoas em volta. Estranhas. Comuns. Tínhamos algo em comum. Familiar estranheza. Todos eram cegos ou fingiam não ver. Apenas esperavam ser vistos... ouvidos, tocados, curados... Eu não queria estar ali. Mas onde mais eu iria? Sozinha, fraca, doente... Aqui essa gente me rodeia num abraço indiferente e ainda faz de conta que não sente vontade de ser abraçada também. Olho pra não sei o quê, com tanta insistência que nada mais posso ver. Tudo se apaga... tudo se acaba, mas sinto o meu peito galopar e o ar passar apertado até os pulmões esmagados pela opressão do pavor. Não sinto as minhas mãos e o suor poreja em meu rosto, gélido! Quero gritar, mas a garganta se fecha num nó amargo e seco. Vou explodir! sinto que estão a me sacudir e a falar coisas ininteligíveis... estou confusa e nada vejo... Só sinto as minhas pulsações e um murmúrio distante, abafado. Tudo está reduzido a sensações e escuridão. Quero sair dessa letargia, respirar, ver, falar! Mas não sei por onde entrei, nem como sair. Estou exausta... sinto sono... sinto tudo a girar e estou sem chão. Um arrebatamento me toma inteira como se eu fosse ser lançada para longe! Num lapso vejo imagens imprecisas, não tenho qualquer apoio e sou jogada... Um estalo na têmpora esquerda, com o estampido surdo de um tiro, e estou no chão. Sinto que aos poucos não sinto mais nada... Algo rompeu, derramou, evaporou...
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