quarta-feira, 12 de março de 2008

Lume e Limiar

Quem quer que se adapte e habite
à superfície, ao rés do chão
onde há vida em abundância
numa varredura ancha,
terá a vida em profusão
para gozar e contemplar.

Mas há quem fuja a tanta luz e ar
e que capacitado seja mais
de o ar e a luz reter e absorver
podendo assim, mais profundo descer
e, se ocultando, mais se revelar.
O que é escasso e raro é bem mais caro
e ao que se tem pouco se dá valor.

Observando os que vivem assim
na escassez, na solidão, no frio,
na densa sombra e na dureza atroz
moídos e subtraídos sendo
e, no entanto, nobres, mais e mais,
inusitado encanto a mim adveio
por esses entes de especial feitio

que a terra e as águas sabem esconder
no mais profundo e oculto de seu seio
no mais remoto recanto ou no veio
das abissais regiões do grande mar.
Tesouros vivos são e existem, sim,
aqui e alhures, mas quem achará?

No imenso mar da humanidade há
para se desnudar, tesouro igual,
porém não se vos dá que possais ver
seu brilho na ribalta tão vulgar.
Sua luz tênue a bruxulear
é a mais suave, embora resplandeça
nas turvas águas, na treva mais densa....

Num mundo assim hostil e rarefeito
viver é verbo mais do que perfeito
que se conjuga ainda que em silêncio
jamais perdendo o verniz da eloqüência,
bem ao contrário de astros presunçosos
que tendo um brilho apenas emprestado
vivem das glórias lautas do passado...

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