sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Instinto de Proteção

Todas as noites, antes de dormir, Mariana fazia uma espécie de ninho com vários travesseiros ao redor de si. Ou reunia todos os seus bichos de pelúcia em sua volta. Ou picava bastante papel e espalhava ao redor da cama. Não dormia sem um desses preparativos.

De tanto a mãe ralhar com ela por causa da bagunça, Mariana inventou outra tática: deixar abertas as portas do seu guarda-roupa que era muito abarrotado de quinquilharias e roupas jogadas, emboladas e amassadas.

Mas a mamãe era implacável! Resolveu por ordem no armário também! Dobrou, organizou e arrumou tudo, jogou muita coisa fora e ainda prometeu a Mariana uma bela surra se não mantivesse a ordem.

Mariana se sentiu totalmente ameaçada por aquela organização toda. Não teve dúvidas: esperou todos irem dormir, pegou um carretel de linha e construiu uma grande teia que atravessava todo o quarto, da maçaneta da porta à báscula da janela, e desta ao puxador da porta do guarda-roupa, e a um prego na perede em tantas voltas que era impossível chegar à sua cama a não ser rastejando rente ao chão, mas antes que alguém se atrevesse a tanto, Mariana colocou sua cobra articulada de madeira montando guarda com uma enorme língua vermelha ameaçadora bem apontada para a entrada do quarto.

2 comentários:

Victor Meira disse...

Esse texto é lindo. É sensível e simples, maravilhoso de ser lido.

Assim como o protagonista do meu último conto, a personagem da mãe aqui é impiedosamente auto-consciênte.

E a personagem de Mariana é ótima.

Mas penso que o melhor do texto é a estrutura simples e suave, que faz com que o universo narrativo se aproxime muito da personagem protagonista. O fim é ótimo.

Gosto muito desse conto.

Anônimo disse...

Entendo perfeitamente a Mariana. Somos iguais.