Um dia, no colégio, um professor pediu que nós escrevêssemos uma redação cujo tema era: "A pessoa ideal para mim". Adolescente, sonhadora e metida a poeta, senti uma verdadeira efervescência em meu eu lírico naquele momento. Era mais do que isso: era como se os céus se abrissem e me dissessem: peça!
Desatei a escrever o meu corolário, perfilei os mais impensáveis adjetivos para um cavalheiro e os elevei à condição de pre-requisitos indispensáveis ao meu critério de escolha do homem perfeito. Desfiei o meu rosário poético, debulhei os meus mais nobres sentimentos e compus uma obra prima de axiomas enaltecedores dos altos princípios que deveriam predicar o meu eleito. Era um verdadeiro tratado. Senti-me acima dos demais à minha volta. Senti-me digna do meu altíssimo ideal.
Dias mais tarde, o mesmo professor adentrou à sala de aula com uma das redações nas mãos, proclamando-a digna de uma menção honrosa! Endireitei-me na cadeira e respirei fundo, esperando que o meu nome fosse pronunciado após os rasgados elogios do professor, mas eis que outro nome fora proclamado. O nome de uma aluna inexpressiva, desimportante até então, simplória aos meus olhos. Espantei-me tremendamente. Mais ainda quando o professor, quase emocionado leu a redação que, em resumo, dizia apenas que importava que o homem tão sonhado por aquela garota fosse: bom. Como assim?! Apenas... bom?
Vinte e cinco anos mais tarde... e só então... após ler uma crônica do Veríssimo é que me caiu a ficha. Falava de uma mulher arrogante que precisou ser humilhada em público para aprender a respeitar o marido que tinha, e que nunca valorizara devidamente porque só enxergava o próprio ego.
Não sei por onde anda Luciana, a minha colega de colégio. Se casou, se é feliz... se achou um homem bom... Mas ela e Veríssimo se encontraram atrás dos meus olhos para me dar uma lição.
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