sábado, 7 de julho de 2007

O Encontro



André caminhava por uma alameda, procurando uma loja de discos. Cabelos louros muito lisos até os ombros e se misturavam à barba também muito loura, ocultando parcialmente os seus olhos verdes, expressivos. Assobiava a sua música preferida e passeava sossegado, aproveitando a agradável tarde livre. Gestos sempre calmos e olhar sereno eram suas marcas registradas
De repente, o som do seu assobio pareceu ampliar-se ao se misturar com o som da mesma música em algum lugar ali perto. André seguiu a música e se deparou com a inauguração de uma boutique. Ficou ali parado, observando a movimentação e escutando o som. Ao reparar no interior da loja, chamou-lhe a atenção, a figura lânguida e muito elegante de uma mulher esguia, de roupas vaporosas e brancas, cabelos negros escorridos e um olhar muito, muito triste. Ela não parecia à vontade naquela festa, embora sorrisse aos convivas com gentil delicadeza. Depois de beber um pouco de champanhe e se despedir da anfitriã, veio caminhando em direção à saída da loja. Ela não andava: parecia flutuar. Continuou em direção ao ponto onde André estava de pé, como se fosse de encontro a ele. Parecia olhá-lo fixamente nos olhos, o que o deixou um tanto sem jeito. Ela não se detinha e continuava a vir até que de maneira avassaladora atirou-se sobre André como uma rajada de vento que este sentiu atravessá-lo completamente. Atarantado, meio tonto e sem nada compreender, André, num impulso, curvou-se sobre si mesmo e depois, virou-se para trás na tentativa desesperada de ver aonde tinha ido parar aquele vulto que literalmente o traspassara como um fantasma atravessa paredes!
Sem entender o que havia acontecido, André tentou se recompor; esfregou os olhos, ofegante e checou em volta, a ver se mais alguém se dera conta do fenômeno. Todos transitavam com naturalidade sem se darem conta de sua presença.
__ Não é possível! O que será que aconteceu aqui? Sem mais demora, André dirigiu-se à loja e começou a percorrê-la em busca de algum sinal da mulher misteriosa, mas só conseguiu, por sua agitação, despertar a atenção dos seguranças que tentaram detê-lo e, finalmente, o conduziram aos fundos do estabelecimento. Anna, a dona da boutique, percebendo a movimentação, os seguiu imediatamente.
__Posso saber o que se passa?
__Esse rapaz insiste em ter visto alguém que não está aqui.
__ Eu a vi! Tenho certeza!
__Como é essa pessoa, meu caro? Indagou Anna.
__ Uma mulher muito elegante, de olhos e cabelos negros, com um pingente lilás...
Anna imediatamente reconheceu a sua irmã pela descrição do jovem, mas como achou tudo aquilo muito estranho, preferiu negar que a conhecesse ou tivesse visto.
__ Cavalheiro esta pessoa não está entre nós. Você deve ter-se enganado. Queira se retirar agora. Agradeço a sua compreensão.
André accedeu e, desculpando-se, procurou a saída. Ainda um tanto aturdido, dirigiu-se a uma lanchonete para tentar se recompor.
Enquanto isso, Anna ligava desesperada para Sophia, sua irmã, a fim de lhe informar sobre o incidente. Sophia não se deixou impressionar pela história e garantiu que dentro de poucos minutos estaria chegando à recepção.
Ao olhar em volta e tentar decidir o que faria, André percebeu um vulto branco que se dirigia a passos rápidos para o elevador. Saiu em disparada, tentando alcançar aquela que parecia ser a mesma mulher que vira na loja. Ocultando-se atrás de uma coluna, perscrutou com cuidado e constatou estarrecido, tratar-se dela.
André viu a figura esbelta de Sophia indo para a loja. Aguardou a distância e quase paralisado por ver que ela se portava exatamente como ele antevira...
Anna mal deixou Sophia se servir de um copo de champanhe e a puxou pelo braço, levando-a para um canto, onde lhe relatou o recente incidente.
__ Sophia, eu estou muito assustada! Esse homem deve estar lhe seguindo! Pode ser perigoso!
__ Não seja tola, Anna, deve ser algum lunático. E depois, se ele estivesse me seguindo não chegaria antes de mim!
__ Você parece não se importar!
__E não me importo mesmo! Dane-se esse rapaz e sua história tola, e você com suas neuroses.
Sophia sentou-se numa poltrona com olhar vago, depois se despediu sob os protestos de Anna, e saiu. Estava cansada de sua rotina espartana de trabalho, e da preocupação obsessiva com que era cercada pela família.
Ao caminhar para o estacionamento, Sophia lembrou, em meio a suas divagações, que vinha tendo sonhos repetitivos com um homem que nunca vira antes, de cabelos e barba loura que lhe aparecia sempre nos sonhos da mesma forma, sorridente, abrindo-lhe uma porta por onde entrava uma forte luz.
Sophia suspirou desalentada e levou a mão à barra que abria a porta de saída para o estacionamento. Antes que ela alcançasse a porta, no entanto, André adiantou-se e abriu-lhe passagem através da mesma, por onde reluziu o sol da tarde.
Os dois se entreolharam por uma fração de segundos e em uníssono perguntaram um ao outro:
__Então você é real?