domingo, 23 de outubro de 2011

Mutante

Dava onze da noite e eu folheva uma revista, hesitando entre a falta de sono e a obrigação de ir dormir. Pensava em fazer uma lista das coisas que eu mais detesto. Ou talvez das manias que eu tenho. Como: ler revistas de trás para frente, ou de ler sublinhando o que acho importante. Fiquei ali lendo sem ineteresse aquela revista de futilidades, com uma caneta na mão, que nem cheguei a usar, quando, do nada, uma tetania inexplicável contorceu todos os dedos do meu pé esquerdo. Dir-se-ía tratar de uma possessão, tão surreal era a imagem! Não doía. Passou como uma onda. Provavelmente uma compressão nos nervos da coluna, cheia de artrose, causou o fenômeno, melhor pensado agora, não tão inexplicável. Mas fiquei pensando naquela manifestação grotesca de uma parte do meu corpo, geralmente tão submissa. E em como, aos poucos sinto que vou perdendo poder e influência. Não controlo mais meus filhos, nem meu peso, nem meus dedos do pé.
Pra quê fazer listas de manias e gostos? Talvez para deixar um registro, para mim mesma, de quem eu costumava ser. Porque essa metamorfose que me é imposta pela idade me desafia a ponto de eu temer esquecer-me de quem eu era.

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