Estou embriagada de imagens. Bebi todas as cores do dia e estou enjoada e confusa. Sinto-me tonta como numa crise de labirintite, puxada de um lado para o outro pelas tendências da moda. Confesso que me fascina a beleza dos editoriais de moda, e gasto horas folheando revistas e assistindo a entrevistas de dsigners e outros experts em estilo. Mas uma coisa me intriga: como essas pessoas tão criativas e aparentemente despreocupadas, sempre elegantes e rodeadas de amigos famosos, rodam mundo e gastam fortunas com roupas, sapatos e acessórios, além de arte e entretenimento! Elas frequentam festas em Ibiza, desfiles em Milão, praias paradisíacas no Taiti, clubes super reservados na Inglaterra e galerias em Nova York com a mesma naturalidade com que vão à feira comprar frutas, ou a um baile funk na periferia. Tudo isso sem perder a classe, e sempre acompanhados por paparazzi. Todos os meses a minha Vogue traz várias páginas recheadas de sedutoras imagens de mimos caríssimos que fazem parte do acervo fashion dessa stylist ou daquela jornalista; de uma socialite ou de uma it girl que acaba de despontar na cena fashion. Eu confesso que assino revistas de moda. Confesso que reviro minhas gavetas e armários todas as noites tentando fazer combinações e descombinações que me façam parecer uma pessoa de estilo marcante, ainda que seja para ir ao trabalho na manhã seguinte... ali no posto de saúde do bairro.
Eu também confesso que pesquiso receitas exóticas e preparo jantares esmerados, regados a vinho ou sangrias, mas os meus convidados não ficam exatamente encantados. Eles transparecem mais estranhamento do que admiração pelos meus requintes, que para eles, parecem coisa sem propósito... numa quinta feira, numa cidade do interior, sem nem um motivo especial, dar um jantar para servir cheviche com pão de nozes!
Não me queixo da vida. Sinto-me até privilegiada, mas não consigo viver a vida da TV, das revistas, e até dos filmes. Mesmo quando se trata de documentários, entrevistas e afins, que deveriam ser realistas.
Há um poder na imagem que nos embriaga. Há uma direção de arte em cada cena, por mais furtiva ou fútil que possa parecer. Há uma mágica, uma luz especial, um movimento, uma festa de tons e sons, tudo muito estudado para parecer natural. Mas que é pura fantasia. Como a trilha sonora dos beijos cinematográficos.
Não que eu seja uma sonhadora Cecília, como a da Rosa Púrpura do Cairo, de Allen. Não... mas convenhamos: programas que lhe permitem entrar na casa de Dudu Bertolini, visitar sua coleção de corujas; passar "Um dia com" Constanza Pascolato, ou bater um papo com Francisco Costa de bermuda!... ah, isso faz a gente confundir realidade com um conto de fadas capitalista, imagético, super pop ou mega cult, mercadologicamente frívolo e multimidiaticamente sedutor.
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