quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Arremedo

Quero, aos berros,
o colo duro e áspero,
o solo mãe
que não é gentil.
Quero aflito, como criança,
um olhar de esperança,
mas me consolo
num olhar sem dolo,
que é desepero e medo...
como é tolo
o seu amor de arremedo.
A gente se vira com o que tem...
O meu desejo vai vagar no escuro,
vai pular o muro,
mas há de encontrar
um regaço mais doce,
um olhar que aquele
não trouxe...
Ou hei de, cego,
me entregar ao vício.
Ou hei de, louco,
ser o sacrifício
oferecido vivo ou quase morto
pra ser mais um
a ficar esquecido.

2 comentários:

Victor Meira disse...

Explosivo, sangrento, saturado de olhares e suor, de amor envelhecido em barril de carvalho. O Desejo vagando no escuro é bonito, como uma forma disforme de luz que não respeita a matéria, e avança, só avança. O amor de arremedo, medroso, atolado em lamaçal, sujo de costumes.

Treta.

Anônimo disse...

"Treta". Hehehehe. Mto legal o seu comentário. Obrigada.
É mto visceral, mesmo, o poema, e coloca o amor num invólucro muito curtido e surrado, mas que é o único entorno do narrador.

Lírica