quinta-feira, 12 de março de 2009

Contos Médicos- Édipo, Filho da Mãe

Deixei os Karamazov no mosteiro, as roupas por passar, no cesto; o pó se acumulando sobre os móveis, a penunmbra e o silêncio atrás da porta e viajei quase duas horas para ouvir as preleções de um senhor versado em estudos do comportamento. Os músculos do pescoço estavam tensos pelo desconforto da posição na cadeira e eu teria que enfrentar o caminho de volta... com chuva. Não sei ao certo porque faço tais coisas. Digo: não existe a menor necessidade de se justificar o desejo de saber. Mas o preço pago é intrigante.
Parece que a menina não quer, jamais, deixar a escola! Pelo menos enquanto ela se vir nos olhos grandes e espertos do garotinho de cinco anos que ontem foi à médica, levado pela mãe que matraqueava:
__Doutora, eu trouxe o meu filho para uma avaliação porque ele me parece muito distraído, não presta atenção em nada e parece não ouvir bem também... Ele é muito lento, aéreo, e não tem noção de tempo. Não sabe a diferença entre ontem e mês passado! Eu estou preocupada, talvez ele tenha algum problema de desenvolvimento... Ah, e é muito desobediente também!
A doutora olhou para aquele menininho de olhar atento, mas tranquilo e inocente e, penalisada pela sua fragilidade diante de tão infame ataque desferido pela aflita genitora, e perguntou sorrindo:
__É verdade, tudo isso? Você anda assim, no "mundo da lua"? Por acaso está apaixonado?
Ele abriu um grande sorriso e agitou a cabeça, afirmativamente.
__Não diga! Por quem você está apaixonado?
__Pela minha mãe!__ Respondeu, orgulhoso.

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