domingo, 22 de fevereiro de 2009

Caleidoscópio

Mascava um sandwiche de pão francês, enquanto olhava a paisagem do alto de um car-rouge, os galhos atrevidos querendo degolá-lo, o que divertia os demais turistas. Ele se esquivava e voltava, indiferente, ao seu pão emborrachado, mastigando também uns pensamentos confusos sobre a realidade, o que quer que seja isso.
_Num momento estou aqui apreciando a esnobe palidez de Paris, enamorado desse jeito elegante de parecer não ter nada para fazer... Noutro instante estou atormentado pelas responsabilidades de um cotidiano trabalhoso, de dias mal vividos e noites mal dormidas.
Onde sou mais real? Tudo gira e se confunde num caleidoscópio enebriante. E de repente, mais um galho imenso de árvore urbana querendo minha cabeça! É preciso estar atento.
A paisagem é impressionantemente bela, recheada de história, heroísmo e arte. Mas sou anônimo aqui. No outro instante, naquele em que sou sangue e sour, lágrima e sonhos também, pareço ter mais identidade. O porteiro me conhece. O motorista do ônibus também. O garçon que me serve a média com pão_mais macio_ e manteiga...

Um comentário:

Victor Meira disse...

Hahah, é demais. A transição da pessoa-narradora é muito sutil, quase me confundi.

O sentimento de estar em casa é muito gostoso mesmo. O sentimento de ter uma identidade.

Bacana o texto, viu?