Se o amor passa, passa como rio...
Que passa ao mar e vira coisa ainda maior.
Não sei o que quero ou possa dar além da minha devoção.
Na bagagem do tempo, mais que as rugas, me entristece, a falta de paixão. Porque a natureza da paixão é efêmera. Mas essencial.
Por isso nos apegamos assim à dor... Mesmo quando o mar está calmo e a terra, à vista, nos agarramos a esse pau podre e ficamos à deriva, fiados num heroísmo cego e tolo.
Parece um desejo de acercar-se da morte pra se sentir mais vivo.
Ilusão...
Brinquedo de criança...
Objeto de transição...
Desejo de arrebatamento...
Na melhor das hipóteses é a própria desilusão que nos arrebata. Nos toma de surpresa, sacode e joga no chão pra que despertemos.
Por quanto tempo?...
A consciência nos concede mais visões e percepções do que qualquer estado ilusório. Porque a ilusão é mera grossificação do real.
A carne é que sente a vida e é o sentir que modula o pensar... O ser traspassa essa carne... Alimenta-se dela... E ondula em suas águas e cintila sob sua lua. Cresce em seu chão, respira seu ar, arde em seu fogo... Até que a natureza se acomode resiliente.
Até que o eu se resigne, e se recolha.
Hoje sou floresta. Viva, úmida, traspassada de águas caudalosas. De odores e brumas, e sussurros e cores, e sombras. Como posso ser sincera? Quem suporta a crueza da verdade? Quem dos seres civilizados sobreviveria no âmago selvagem da natureza crua?
Em vez disso preferimos a sofisticação da fria navalha que nos corta a alma em fragmentos mínimos, em confetes, ...