sexta-feira, 10 de junho de 2016

Volúpia e Agonia

E porque a vida é tanta delícia
É preferível morrer...

segunda-feira, 30 de maio de 2016

De Um Adeus

Sobre este sólido silêncio
Eu me debruço
E em soluços renuncio
Aos sonhos...
Eu busco apenas
O esquecimento
E permaneço insone
A relembrar-lhe o rosto.
Mas sinto o gosto do adeus
Em seu beijo...
E te vejo sem desejo
Partir...

Sobre o Amor e Afins

Se o amor passa, passa como rio...
Que passa ao mar e vira coisa ainda maior.
Não sei o que quero ou possa dar além da minha devoção.
Na bagagem do tempo, mais que as rugas,  me entristece,  a falta de paixão. Porque a natureza da paixão é efêmera. Mas essencial.
Por isso nos apegamos assim à dor... Mesmo quando o mar está calmo e a terra, à vista, nos agarramos a esse pau podre e ficamos à deriva, fiados num heroísmo cego e tolo.
Parece um desejo de acercar-se da morte pra se sentir mais vivo.
Ilusão...
Brinquedo de criança...
Objeto de transição...
Desejo de arrebatamento...
Na melhor das hipóteses é a própria desilusão que nos arrebata. Nos toma de surpresa, sacode e joga no chão pra que despertemos.
Por quanto tempo?...
A consciência nos concede mais visões e percepções do que qualquer estado ilusório. Porque a ilusão é mera grossificação do real.
A carne é que sente a vida e é o sentir que modula o pensar... O ser traspassa essa carne... Alimenta-se dela... E ondula em suas águas e cintila sob sua lua. Cresce em seu chão, respira seu ar, arde em seu fogo... Até que a natureza se acomode resiliente.
Até que o eu se resigne, e se recolha.
Hoje sou floresta. Viva, úmida, traspassada de águas caudalosas. De odores e  brumas, e sussurros e cores, e sombras. Como posso ser sincera? Quem suporta a crueza da verdade? Quem dos seres civilizados sobreviveria no âmago selvagem da natureza crua?
Em vez disso preferimos a sofisticação da fria navalha que nos corta a alma em fragmentos mínimos, em confetes, ...

sábado, 23 de janeiro de 2016

Ao Acaso

Eu deixo aos céus
O poder.
Eu deixo ao acaso
O querer.
Eu estou de caso
Com esse bem querer...
E não é por acaso.
É pra esquecer!
Que eu me acomodei
No meio de um labirinto.
E já nem sei como me sinto...
Eu só me repito
No rito desse viver.
Nessa sala de espelhos
Em que eu sei
que não sou
Eu apenas... O expectador.
Sou infinito espectro
Da mesma dor...



domingo, 27 de dezembro de 2015

Intempéries

Chuva sem poesia
Noite sem companhia
Rima sem luz e vazia.
Gente que nem se conhecia...
Mas a mesma letargia.
Eu contaria meus planos
Confessaria os enganos
Te esperaria por anos a fio...
Se o fio que conduziu
O nosso estranho caso
Não desse o nó que, por acaso
Nos atou mais ainda
Numa tortura infinda...
Tanta ida e vinda
Sem sair do lugar.
Agora é cinza o que ardia...
É solitária a agonia.
Onde, antes, não cabia
A minha tola alegria
Agora há um quase vazio
Arredio, sombrio...
Que eu remedeio
No meio das coisas,
Das gentes, das horas...
Mas quando tudo
Está mudo...
Quando desnudo meu eu
É a lembrança do seu olhar
Que me tira o ar...






domingo, 20 de dezembro de 2015

Esquecer

Lavava o meu rosto,
Os olhos fechados...
Mas era o seu rosto que eu via...
Esfregava, lavava com gosto...
Como coisa que alivia.
Como se quisesse arranca-lo
E deixa-lo escorrer.
Descer pelo ralo... Esquecer.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Mornidão

Eu me perdi
Na mornidão do afeto.
Eu me confesso
Totalmente indefesa.
Sou de cama e mesa
E saio quase ilesa
Porque não me aventuro.
Curo paixões homéricas
Com receitas domésticas
E deixo o tempo
Simplesmente
...dolorosamente...
Me gastar.